Percorrendo os Andes em Bicicleta - Diário de bordo do site www.qhapaqnan.net - Textos e fotos: Manuel Terra - (amplie as fotos clicando)

Llica - Salar de Uyuni, 85km

Dia 10 de Agosto. Parti às 10 da manhã de Llica após passar pelo portal do quartel da cidade desejando boa viagem. Pedalei por estrada de terra uns 2 ou 3 km até entrar no maior Salar do mundo. A esquerda tinha como referência o vulcão Tunupa e logo em seguida vislumbrei um ponto no horizonte: a Isla del Pescado. O terreno neste Salar é muito mais firme e o sal está solidamente cristalizado formando uma capa muito mais grossa que em Coipasa. Pedalei firme com boa velocidade apontando pra ilha e nada mais se enxergava do outro lado do horizonte. Seriam 160 km até o outro lado, sendo percorridos em 2 etapas, representando a versão mais longa da travessia em diagonal. Passados 60km após a partida de Llica, alcancei a ilha, que é cheia de vegetação, especialmente cactos. Como era de tarde, decidi não acampar na ilha e pedalei forte mais uma hora e meia ate às 6h da tarde, momento limite, pois o sol iria se pôr 20 minutos depois. Pedalei bem até alcançar 85km e no horário previsto, ao entardecer parei para acampar completamente no centro desse mar de sal. Qual não foi minha surpresa quando me dei conta de que não seria possível montar a barraca já que o duríssimo solo de sal impedia que eu fincasse os ferros de estrutura. Tive que decidir rápido, pois a temperatura e a luz baixavam mais a cada instante. Poderia pedalar mais um pouco até uma outra ilha menor onde encontraria solo de terra, ou ficar ali, dormir a céu aberto. Decidi pela segunda opção porque chegaria na escuridão na ilha e talvez nem enxergasse a metade do caminho. Estendi a barraca no chão, coloquei o isolante e abri o saco de dormir dentro da barraca que serviu de corta vento. Coloquei quase toda a roupa que tinha pois sabia que faria aproximadamente menos 15 graus. Jantei umas sardinhas com pão, fruta e chocolate e me enfiei naquele refúgio improvisado contemplando um pôr-do-sol maravilhoso. Assim dormi olhando para as estrelas. Acordei algumas vezes de madrugada, mas tive a grande sorte desta noite não ter havido vento. Despertei para ver o sol nascer e me deparei com as frutas, a água e os tomates completamente congelados (tinha separado uma garrafinha e colocado dentro do saco pois imaginava que isso aconteceria). Inclusive o reservatório de água da mochila, de 3 litros, tinha virado uma pedra, sem uma bolha sequer. Quando desmontei o acampamento pensei que tinha sal cobrindo o saco, mas não. Devido ao vapor que escapava através do tecido, uma camada de gelo se formou entre o saco e o forro. Durante a noite tive a precaução de colocar minha luz intermitente de seguraça (pisca pisca) acoplada ao meu tripé de fotografia, para nã0 ser atropelado por algum veículo em trânsito pelo Salar.

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