Percorrendo os Andes em Bicicleta - Diário de bordo do site www.qhapaqnan.net - Textos e fotos: Manuel Terra - (amplie as fotos clicando)

Maymara - Acampamento Cuesta de Lipan, 53km

22 de Agosto. Parti às 10:30h de minha humilde morada. Maymara é bem mais simples e menos turística que Humahuaca ou Tilcara. Talvez por isso consegui alojamento bastante barato. A estrada continuou em declive, atravessando a Quebrada e passando pelo pequeno pueblo de Hornillos, no km 4. Logo depois cheguei a intercessão com a rota 52, no km 15 (2180m de altitude). Abandonei a rota 9, a qual vinha acompanhando e descendo desde La Quiaca e comecei a subir pela 52. Tinha percorrido 3/4 da Quebrada de Humahuaca e centenas de quilômetros em descida para mudar o perfil da viagem uma vez mais. No km 18 encontrei o pitoresco pueblo de Purmamarca com sua bela praça cheia de vendedores de artesanato. Aproveitei ali para garantir o prato de comida quente do dia ao redor das 12h. A Cuesta de Lipan é uma subida de praticamente 40km que chega a ser atração turística. Subi o dia todo calculando que ainda com luz chegaria no topo e poderia inclusive começar a descer para o outro lado das montanhas evitando o mal de altitude, vento e frio. A subida, entretanto, é severa e me levou mais tempo do que pensava. O vento logo depois de alguns km de subida começa a ser muito forte, o que me obrigou a descer da bicicleta ou a manobrar com perícia para continuar em cima dela. Fora a grande dificuldade da subida, a experiência foi memorável. Antes do km 32 da Rota 52 e faltando 5km para o topo, aproveitei para encher garrafinhas de água numa nascente a beira da estrada. Às 18:00h parei para me agasalhar, pois o entardecer e a violência do vento me preocupavam. Logo quando abri meu alforje perdi em um segundo meu protetor de rosto e pescoço (neck gaiter). Em um descuido de um instante, o vi voando em alta velocidade, a 200 metros estrada abaixo. Nem cogitei em correr atrás dele. O vento estava fortíssimo. Já neste ponto pedalava 100 metros e descansava 10 segundos para recuperar o fôlego, pois já rondava os 4000m. Continuei com a idéia de chegar ao topo e começar a descer, mas já era noite, ventava e fazia frio neste lugar inóspito. No km 42 passei pelo Abra de Lipan a 3969 e continuei com muito esforço estrada acima. A subida parecia não acabar nunca. Até que no km 53 do meu dia e preocupado pela noite e as condições, encontrei uma cabana de pedra a uns 200m da estrada, morro acima. Não tive muita dúvida e decidi acampar ali mesmo pois seria perigoso continuar. Subi a ladeira empurrando a minha bicicleta no meio de pedras e areia. Chamei pelos moradores da cabana, não obtive resposta e vi que a porta estava fechada com cadeado. Com a lanterna na boca, pois a estas alturas já eram 19:30h, já estava de noite comecei a montar a barraca a uns metros da cabana procurando me refugiar do vento com os muros de pedra. Dentro da barraca minha preocupação terminou e embora apertado, jantei ali dentro.

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