Percorrendo os Andes em Bicicleta - Diário de bordo do site www.qhapaqnan.net - Textos e fotos: Manuel Terra - (amplie as fotos clicando)

Aampamento Cuesta de Lipan-Acmpamento Salinas Grandes, 95km.

Dia 23 de Agosto. Apesar da altitude, dormi especialmente bem neste acampamento a 4170m. Foi difícil sair da “cama”, mas depois de um pouco de moleza e preparar minhas coisas, estava de volta à estrada as 10:30h. Logo no km 1,8 encontrei-me próximo ao topo da montanha, confirmando que tinha acampado entre o Abra da Cuesta de Lipan e o final da subida(Altos del Morado). Os poucos motoristas que passavam continuavam a buzinar e a me cumprimentar. No km 3, comecei o declive daquela magnífica “cuesta” (que em espanhol significa subida). Um novo horizonte se apresentou aos meus olhos, um conjunto de colinas e montanhas extremamente belas e coloridas bastantes similares às vistas na Quebrada, pois de fato não estava tão longe. No fundo e relativamente distante via-se o terceiro salar da minha viagem: as Salinas Grandes. O vento não era uma questão, mas o frio sim, pois apesar de estar fazendo sol ainda era cedo e o atrito do ar gelado se fazia notar. O ambiente criado por aquele novo vale e aquelas montanhas de outros tempos me surpreenderam com suas formas e cores de fantasia. Maravilhado, fui levado pela gravidade suavemente até o km 31 onde começou a planície das Salinas Grandes aos 3425m de altitude. Este salar é asfaltado e bem menor que os anteriores que tinha passado (Coipasa e Uyuni). Atravessei-o em direção a Susques e no km 45 entrei por uma estrada de terra à direita da pista, em busca de um prato quente de comida na vila de "Santuário de 3 Pozos". Depois de escassos 2 km, entrei nessa empoeirada comunidade e consegui comer no único restaurante. Durante a pausa pensei que seria melhor me dirigir em direção a San Antonio de los Cobres para não atrasar minha chegada em Salta. Assim voltei a estrada de asfalto e pedalei por onde tinha vindo, atravessando o salar novamente até o cruzamento com a rota 40 no km 67. Essa volta não foi nada sofrida pois o vento era a favor e a pista era asfaltada. Mas com a rota 40 começaram a poeira, cascalho, costelas e o vento contra, a níveis irritantes. Pensei que estrategicamente seria melhor pedalar o máximo que a luz do dia me permitisse para que no dia seguinte não tivesse uma distância excessiva nesse terreno tão difícil. Neste ponto tinha voltado a Puna (deserto de altitude típico do altiplano). Com o vento forte e piso de areia já estava pensando qual seria a melhor maneira de pernoitar, primeiro resguardo contra o vento e segundo firmeza das estacas da barraca na areia. Assuntos que de fato estavam relacionados...Mas sempre aparece uma solução e foi assim, por volta das 19 horas e com 95km pedalados encontrei uma série de muros de argila onde no passado houve uma casa. Ali mesmo refugiado do forte vento montei a minha barraca enquanto observava mais um pôr do sol inesquecível. Não consegui montar a barraca totalmente horizontal pois havia desnível (queria ficar próximo do muro) e também tive algum problema com a fixação das estacas, mas logo estava dentro da minha morada cigana jantando e vendo as fotos do dia, enquanto o vento uivava na imensidão da Puna.

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