Percorrendo os Andes em Bicicleta - Diário de bordo do site www.qhapaqnan.net - Textos e fotos: Manuel Terra - (amplie as fotos clicando)

San Antonio de los Cobres - Santa Rosa de Tástil,69km

25 de Agosto. Acordei com calma e sai para comprar alguma comida e água para minha jornada do dia. Pude constatar que fazia muito frio e o vento era imenso, empoeirando as ruas da precária vila. Pensando que o dia seria fácil, já que o caminho a frente era de descida, saí tarde, por volta das 12:45h. Empreendi a minha jornada no meio de um vendaval que chegava a ser irritante. No início a pista ainda de terra sobe um pouco até os 3880m e foi nesse início que me vi imerso dentro de uma tormenta de areia, com um vento fortíssimo. Tinha areia até no interior de minhas luvas "full finger" que estavam fechadas no punho. Por sorte, neste começo o vento era a favor, o que favoreceu meu movimento, mas tinha momentos em que não enxergava um palmo a minha frente. A areia dominava a atmosfera. No km 14 encontrei o cruzamento para o Abra Acay e La Poma. Continuei pelo meu caminho e no km 23 cheguei no Abra Muñano, a 3970 metros de altitude, onde começava o asfalto. Ali em Muñano tem uma estação de trem abandonada onde encontrei refúgio do vendaval e aproveitei para colocar a capa de chuva nos alforges, trocar o pneu para um de asfalto, trocar o pisca e fazer algumas notas. Continuei o meu caminho na pista de asfalto com um vento absurdo. Repito que nunca tinha visto nada igual em minha vida. Tanto que era perigoso pedalar por aí. No acostamento direito, o vento - agora lateral - me jogava para o meio da pista podendo causar um acidente sério se passasse algum veículo. Por isso fui para o acostamento esquerdo, mas o vento me empurrava para fora da estrada. Era muito difícil pedalar, pois simplesmente não podia pilotar. Pedalava 10m e parava, empurrando a bicicleta, preocupado. A situação era grave e não conseguia manter o rumo. Apesar de aos poucos ir descendo, o vento continuava e nas curvas ou precipícios desmontava com medo de uma rajada me derrubar. Continuei pelo acostamento do lado direito por um bom tempo até que depois de alguns quilômetros diminuiu a violência. No km 49 passei pela vila de las Cuevas e no km 63 cheguei na placa indicativa das ruínas de Tástil. Pedalei por um caminho de terra por uns 2 km, até chegar nas ruínas, antigo assentamento pré-incaico e que certamente fazia parte do Qhapaq-Ñan. Completamente desertas, pedalei por trilhas dentro das ruínas e tirei algumas fotos. Depois, com o pôr-do-sol, voltei à estrada e com 69 km pedalados cheguei em Santa Rosa de Tástil, a 3095m de altitude. Certamente bem menor do que imaginei, pois a vila é composta de uma rua e poucas casas e tinha somente um lugar aberto onde eu poderia comer. Ali perguntei por pousada e me indicaram a muito humilde morada da Sra. Maria, onde sem luz e num quarto com 3 camas me instalei. Já estava no meu sexto dia sem tomar banho e me sentindo sujo e cansado. Iria para o sétimo, pois aqui também era inviável tomar banho. Troquei de roupa e fui jantar uma espécie de cozido no único local da vila.

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