Dia 10 de Agosto. Parti às 10 da manhã de Llica após passar pelo portal do quartel da cidade desejando boa viagem. Pedalei por estrada de terra uns 2 ou 3 km até entrar no maior Salar do mundo. A esquerda tinha como referência o vulcão Tunupa e logo em seguida vislumbrei um ponto no horizonte: a Isla del Pescado. O terreno neste Salar é muito mais firme e o sal está solidament
e cristalizado formando uma capa muito mais grossa que em Coipasa. Pedalei firme com boa
velocidade apontando pra ilha e nada mais se enxergava do outro lado do horizonte. Seriam 160 km até o outro lado, sendo percorridos em 2 etapas, representando a versão mais longa da travessia em diagonal. Passados 60km após a partida de Llica, alcancei a ilha, que é cheia de vegetação, especialmente cactos. Como era de tarde, decidi
não acampar na ilha e pedalei forte mais uma hora e meia ate às 6h da tarde, momento limite, pois o sol iria se pôr 20 minutos depois. Pedalei bem até alcançar 85km e no horário previsto, ao entardecer parei para acampar completamente no centro desse mar de sal. Qual não foi minha surpresa quando me dei conta de
que não seria possível montar a barraca já que o duríssimo solo de sal impedia que eu fincasse os ferros de estrutura. Tive que decidir rápido, pois a temperatura e a luz baixavam mais a cada instante. Poderia pedalar mais um pouco até uma outra ilha menor onde encontraria solo de terra, ou ficar ali, dormir a céu aberto. Decidi pela segunda opção porque chegaria na escuridão na ilha e talvez nem enxergasse a metade do caminho. Estendi a barraca no chão, coloquei o isolante e abri o saco de dormir dentro da barraca que serviu de c
orta vento. Coloquei quase toda a roupa que tinha pois sabia que faria aproximadamente menos 15 graus. Jantei umas sardinhas com pão, fruta e chocolate e me enfiei
naquele refúgio improvisado contemplando um pôr-do-sol maravilhoso. Assim dormi olhando para as estrelas. Acordei algumas vezes de madrugada, mas tive a grande sorte desta noite
não ter havido vento. Despertei para ver o sol nascer e me deparei com as frutas, a água e os tomates completamente congelados (tinha separado uma garrafinha e colocado dentro do saco pois imaginava que isso aconteceria). Inclusive o reservatório de água da mochila, de 3 litros, tinha virado uma pedra, sem uma bolha sequer. Quando desmontei o acampamento pensei que tinha sal cobrindo o saco, mas não. Devido ao vapor que escapava através do tecido, uma camada de gelo se formou entre o saco e o forro. Durante a noite tive a precaução de colocar minha luz intermitente de seguraça (pisca pisca) acoplada ao meu tripé de fotografia, para nã0 ser atropelado por algum veículo em trânsito pelo Salar.